quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Esperou


Esperava.
Passaram semanas, talvez mesmo meses, perdera a conta dos dias, enterrado num sofá forrado por mantas velhas. O corpo vincara-se ao modelo e este se adaptara às ossadas de seu fiel depositante. Apenas se recordava, que ao fim de algum tempo, deixara de sentir a própria pele, amassada pelos vincos das cobertas empoeiradas. 
Adormecia.
Esperava.
Era um corpo esguio, bonito, tão frágil quanto uma flor campestre.
Feita suposição, passara afinal, mais que meses, arriscou-se falar em anos.
Adormecia.
Esperava.
Adormecia, sonhando sobre o encanto de seus melhores sonhos. Sonhava com o qual lhe ficara gravado na memória, a maior das delicias que outrora usufruíra. Sonhava um sonho vivido por boca tão doce, quente, húmida e aromática como nunca conhecera mais alguma.
Esperava, não sabia bem o quê, talvez simplesmente pelo adormecer e o acordar em dormência, com o sexo ainda palpitante, quente e húmido. E suspirava profundamente e voltava à espera do adormecer.
Passaram afinal seis anos, era o registo da matéria que ficara em pó sobre as cobertas, grande parte também corroídas pela decomposição e por dejectos acumulados, que envenenaram e destruíram de dentro para fora, aquele que fora corpo.
Registou-se, como seu desejo, e tal como ele Esperou, 
a epígrafe a causa de morte: morrera de amor.

"Morrer é que me assusta." Montaigne   

18 comentários:

(Ela) disse...

A pior das mortes, aquela de onde raramente regressamos...

Beijo d'(Ela)

Anónimo disse...

Desculpa a crueza, mas ninguém merece tal.
Nem o próprio, que a vida é demasiado bela, para ser desperdiçada;
Nem o outro, porque não há ninguém tão importante, que nos mereça tal abandono.
É duro um desgosto de amor? óh, se é! mas a vida está aí, para ser vivida, de preferência intensamente, que para descanso, "basta-nos" a morte.

Jinhos, minha Laidinha ;)

Shiver disse...

A morrer que seja por uma coisa que valha a pena.....

Anónimo disse...

Viveu, amou e... morreu de amor. :)

Anónimo disse...

O primeiro parágrafo chegou-me.

AC disse...

A dor de perder um amor é gigante, mas se abrirmos a porta para entrar ar e observarmos à volta, capazes de ver realmente o que nos rodeia, o tempo encarregar-se-à de curar o amor e colocar outro alguém no lugar dele. Nada vale o nosso sofrimento, homem nenhum vale a vida de alguém infeliz...

Beijinho enorme

Casaert disse...

Xi, vejo me ali, espero, espero, espero....

beijo

Anónimo disse...

Ninguém merece tal fim...

Baby suicida disse...

(Ela) tão bom saber-te por cá.

Apertos

Baby suicida disse...

Leão nem sempre a causa são desgostos de amor. As opções não são assim tão vagas.
Aperto em ti, que te gosto como sabes!

Baby suicida disse...

Shiver, a morte não dá opção de escolha.

Aperto especial, pq és tu!

Baby suicida disse...

JM faz parte :)

Apertos

Baby suicida disse...

My Skin n Under, desculpa.

Aperto meigo

Baby suicida disse...

AC neste caso a dor era bem mais forte, um descontrolo permanente. Loucura, incapacidade, impotência.

Coisas da mente que magoa o corpo.
Não é pessoal é estória. Tranquila :)

Aperto e bem vinda

Baby suicida disse...

Casaert tu... ????

Ok
Aperto doce

Baby suicida disse...

JLynce

há que fazer por merecer diferente fim.

Aperto com aroma a café

Morpheo disse...

Um dia... morro de Amor! Beijo doce...

Baby suicida disse...

Morpheo que um dia.... seja amor de morte.

Aperto daqueles.


Sê bem vindo, e vem-te muito aqui, que eu quero tanto...