sábado, 28 de dezembro de 2013

falta um quarto para hotel



Podes ser tu quem quiseres. Podes ser um, podes ser uma. Podes vir vestido de estórias ou despida de nadas. Vem com pedidos ou com ausências. Serás vazia, serás imenso. Com mãos fartas de medo, barriga de frio, gritos de silêncio.
Podes ter um passado de segredos ou um presente incerto. E então, enquanto não vem o amanhã, tropeça na sombra, chuta qualquer segundo, sê flácida de conteúdo, carente de testemunho. 
És e serás, quem serve apetites, quem dá vontades. És desejo sem vista futura, um querer apessoado. 
Chega sem promessas escritas, sem dizeres falados e não olhes, não encares e toca, perfura, vasculha, remexe e acaba por nos fazer vir. 
Depois vem a madrugada, que alcança a quase saudade e nos dá a liberdade. Leva-nos um pedaço do tempo, do que foi quase nada, foi um só prazer desejado por dois corpos cansados, naquele quarto de hotel.


“Só por existir, só por duvidar, tenho duas almas em guerra. E sei que nenhuma vai ganhar. Só por ter dois sóis, só por hesitar” Jorge Palma

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Sê-lo, é sempre um SELO de natal,


Presente para:

porque é natal, porque sendo brega ou não, um selo, não é só sê-lo é parecê-lo, porque o Leão copia e eu também, porque para quem aqui passa e fica é sempre um ar de graça, porque sim e porque não e porque todos vós escrevem maravilhosamente, me encantam, me alegram, me fazem sonhar, me mimam! Obrigada, a vossa ,
Adelaide 

"Eu não sou boa nem quero sê-lo, contento-me em desprezar  quase todos, odiar alguns, estimar raros e amar um."
Florbela Espanca

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Depois da guerra

houvera alguns mortos e claro muitos feridos. Não muito diferente de outra guerra qualquer. Mas hoje era noite de véspera de natal.
Mais puta que ontem, estava emaranhada na matança do animal. O sangue escorria por uma racha fina da pedra centenária do balcão daquela cozinha. O peru dera trabalho de sobra, agora havia que o rechear. Seriam muitos à mesa, feitas as contas, todos os sem abrigo da avenida.
O corpo ressentia-se da venda da noite anterior, as pernas fracas, as ancas doridas e algumas nódoas negras nos braços da pressão exercida no climax de tantos os que passaram por ela.
Seria enfim, uma ceia de luxo, compensaria a guerra travada, o suporte de todas as bombas corporais.  
À mesa, respirava outro ar, sem ajuda de anjos celestiais para a manter crente. Sentia-se mulher, magma na sua generosidade. Afinal, era já natal.


" Ideal seria que todas as pessoas soubessem amar, o tanto que sabem fingir" - Bob Marley