quarta-feira, 16 de abril de 2014

My kind of stuff (e... depois?)

escorregou pela branca porcelana, tal leoa marinha.
A água quente encharcou o seu corpo, mais do que já vinha, tenso e húmido, numa mistura entre ânsia e medo. 
Ficou quieta, dentro do seu fato ensopado, enrolado sobre si. Aguardava sinais do canto inverso da imensa banheira.
Uma neblina azulada, emaranhava-se ao centro, violava-lhe o cabelo solto, acariciava-o e depois zarpava entre a testa desfocando-lhe a visão.
Mas cedo, as águas calmas se agitaram. Abriram-se que nem portões, saindo encharcadas umas pernas esguias, tais serpentes surdas, atentas às vibrações fortes da sedução. E o nevoeiro fugiu, aterrorizado com a ondulação.
Descortinou-se uma mulher de pele muito branca de olhar negro e fios de cabelos muito escuros, que elevava o corpo pedinte, cuspindo de uns lábios gordos o desejo a ser saciada. Uma Naja perigosa, com sua vulva peçonhenta, encantada por contornos desconhecidos.
E insistente, por uma mão de dedos finos, decorados a anéis de pedras lustrosas que encandeavam os azulejos curiosos, alteava a céu aberto, um clitóris dilatado e choroso por lágrimas de espuma.
Arrepiou-se, respirou tremula ao embate da visão. Por momentos assustou-se com o tamanho e forma, pensou ser incapaz de corresponder ao que se propôs pelo frio sentido nas entranhas do seu ser, tão feminino. Achou que nem a flauta mais encantada a fazia cair sobre aquele monte de vénus. 
Não se desenovelava do seu traje, já transformado em camisa de forças. O corpo tinha sede, mas a mente era travada por uma razão de medo, igual ao embate com a cobra na savana seca.
Mas ali não era o deserto e água de todo rareava. Naquele ambiente azul celeste, era quarto, um quarto de banhos. Ali pingava a torneira, pingos sedentos que chamavam outros fios de água.
E ela, deixando-se ir na sinfonia da pinga, atordoada na neblina, inebriada pelo cheiro intenso a flores gulosas. Caiu, mergulhou no lago...


Nasci sensitiva e assim hei-de morrer, muito provavelmente... nós somos o que somos e não o que queríamos ser; não te parece?" - Florbela Espanca 

20 comentários:

Water disse...

.... e depois fazes com que a minha dependência renasça como uma fénix renascida das cinzas....

Tattoo disse...

Eu já renasci mas.... não termina aqui pois não ???

Bj completo

Imprópriaparaconsumo disse...

Medo e receio. Mergulho em apneia. Respiração que acelera. Prazer líquido. Dilúvio na pele branca.
:)
Perfeito como Ela :)
Um beijo em ti

Handsomed.74 disse...

Been here.

Casaert disse...

:D bom :D, pingos sedentos são bem vindos :D

Beijão

Legionário disse...

As grandes paixões preparam-se em grandes devaneios:)

Unknown disse...

Somos o que pensamos...Não o que pensamos ser.

Beijo meu

(Ela) disse...

O toque final da eterna Florbela, sublime.

Beijo d'(Ela)

Baby suicida disse...

Water que renasça tudo ao que tens direito!

Anónimo disse...

Escreves é bem comó caralho...e dás-me cá uma tusa...

Baby suicida disse...

Girl With Tattoo, sim já terminou

por enquanto

Baby suicida disse...

imprópriaparaconsumo

obrigada minha querida <3

Baby suicida disse...

Duckman, onde???

Baby suicida disse...

Casaert, então vem-te... aqui :P

Baby suicida disse...

Legionário, nestas águas não me parece constar paixão!

Baby suicida disse...

R Undiscloseddesires, somos certamente qualquer coisa... :P

Baby suicida disse...

(Ela)
aperto em ti

Baby suicida disse...

Jorge, :) obrigada! MESMO!

Vício de Ti disse...

:))

Estavas inspirada! :)

Acaba aqui?

Baby suicida disse...

Vício, achas que não devia acabar???

Aperto